Voltei a sonhar com fantásticas paisagens, não entendo o porquê. É a segunda vez após tantos anos, muitas belíssimas nuvens n’um horizonte de cores em perfeito dégradé, além do brilho singelo e natural… Montanhas longínquas, fascinação… quem me dera ser capaz de descrever cada detalhe. Tudo mudou radicalmente nas últimas duas semanas, tudo! E se revela, desvela, outra vez à minha frente, toda a metamorfose da vida. A gente nunca sabe o que vem por aí, tampouco o que espera de nós o acaso do destino que, de certo modo, moldamos com nossas mais ínfimas decisões. Ocupar o lugar que temos como protagonista de nossa história não é algo fácil, jamais fora ensinado para a maior parte das pessoas d’este mundo. Sorte daqueles que souberam disso desde a infância. Normalmente, infelizmente, as pessoas consomem a vida sem se impor sobre ela e esperam o milagre de algum deus sem serem capazes de notar que o milagre já se faz a cada segundo; o singelo voo de uma borboleta pode modificar profundamente toda a eternidade.
21 de janeiro de 2021
Noites de solidão, dias chuvosos. Enfatizo com frequência que este início de verão está profundamente melancólico. Embora o vínculo do mais etéreo amor possível entre humanos regue com frequência o sentido de toda a existência, ainda assim nada afasta a sensação de absurdo, e silencioso, vazio. Há de se crer que, se há o "vazio", então há alguma coisa; ou a solidão ela mesma signifique alguma coisa; todavia não existe palavra que de fato explique a sensação sorumbática e penumbral que permeia meu âmago desde muito, muito tempo atrás. Não está vinculado, especificamente, à tristeza ou amargura; muito menos à depressão; trata-se da angústia do Ser e dessa eu conheço com precisão. A angústia move, sem ela perdura por mais tempo a inautenticidade. Mas, de fato, nada disso importa enquanto o alarde da grande cidade impede que os trovões se espargem no cântico da grandiosidade natural de suas constituições. Aqui, eu apenas escrevo; a razão que me sustenta será sempre a Escrita.