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Sara Melissa de Azevedo
Escritora e Poetisa
Textos

Ensaio primevo intitulado

Imersa no hospício pandêmico, abracei a loucura e isolei meu corpo e minh'alma, ao primeiro o cárcere de concreto, ao segundo a prisão do anseio. A solidão intrínseca encontrou a imortalidade através do espelho extrínseco e, o que era para ser um alívio, tornou-se amedrontador. As notas do meu desespero não compõe uma sinfonia, nem marcha fúnebre nasce das pétalas dos sintomas que não são do astro, mas do coadjuvante. Como a humanidade é frágil... Mesmo que não nos abrace a dor agonizante de um vírus obscuro, basta um riso frouxo para qualquer outra doença se apresentar ao sistema, se não isso, o fim advém por outros meios.

Sem tormentos pessimistas, pois veja que na véspera de um dia adoecido, deitei sobre a cama aquecida e olhando para o teto desagradável conversei com aquele que acreditadores chamam de Deus e descrentes de Universo e niilistas de Nada. Queria implorar uma vida de riqueza e glória dado as condições humanas já não tão favoráveis — visto também que sequer sei se a vida se repete no morrer ou se me sorrirá outra vida a posteriori. Pois bem. Pela minha moral cujo ofício primevo é condenar tudo o que quero fazer antes de o fazer, não pedi riqueza e nem mesmo uma camisa listrada. Olhei para o teto e pedi compreensão.

Se me bastaria a compreensão mais profunda deste caos que é ser? Se me bastaria a compreensão profunda deste que é o Inenarrável de tantos nomes? A compreensão que me grita acima de meu coração e mente que se destroem pelos ensejos materiais e românticos, esta é a minha sede. E tudo o que eu faria com ela é o meu essencial para o agora: silenciar o anseio que pertence à prisão de minh'alma, pois o cárcere físico sempre foi meu lar, de um jeito ou de outro.

A pergunta que não cala, houve resposta para além do meu teto? Acreditem se quiser, eu não sei. Dos dós no cântico destes tempos, do horror que nós mesmos cultivamos anos após anos; eis a minha oração e dela a resposta que não sei, porque diante do espetáculo terrífico, não saber é a melhor compreensão que me cabe.

Sara Melissa de Azevedo
Enviado por Sara Melissa de Azevedo em 30/12/2021
Alterado em 30/12/2021
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